Dia 1º de Maio, dia do trabalhador. Mas mais que isso: um dos dias mais tristes da minha infância.
Em 1994, eu tinha apenas 8 anos. Minha família havia se mudado recentemente (em novembro do ano anterior) de Belo Horizonte para Pará de Minas, no interior do estado, e eu estava naquela idade em que os esportes começam realmente a fazer parte da vida de qualquer garoto. Acompanhava futebol com maior frequência, começava a entender do assunto e estava virando um aficcionado por Fórmula 1.
Tive grandes ídolos no esporte, desde pequeno. No mesmo 1994, o goleiro Taffarel, com suas defesas na Copa e posterior transferência para o Galo, conquistou o coração de um jovem futuro goleiro. Mais velho, jogadores como Marques ou o tenista Guga também passaram a ser ídolos.
Mas foi ele, Ayrton Senna da Silva, ou Ayrton Senna do Brasil, meu maior ídolo da infância.
E eu me lembro como se fosse ontem do dia 1º de maio de 1994. Estava começando a acompanhar todas as corridas, a conhecer os pilotos e os carros, a me apaixonar pela velocidade.
Na manhã deste fatídico domingo, estava deitado na cama com meu pai assistindo a corrida. E é engraçado pensar como tantas pessoas, que nunca haviam sentado para ver uma volta sequer, também faziam isso nesse dia.
Lembro que a transmissão havia mostrado imagens da câmera que acompanhava o carro de Senna. Adorava essas tomadas, me sentia um piloto de Fórmula 1. E, de repente, uma outra câmera mostra seu carro passando direto na amaldiçoada Tamburello. Fiquei atônito.
Acompanhei cada segundo do atendimento médico, e passei o resto do dia grudado na frente da TV, esperando notícias. Quando meu pai me contou que haviam dado no rádio a notícia de morte cerebral, não entendi e nem acreditei: pensei que ele ainda poderia melhorar e se recuperar. Afinal, com oito anos é fácil acreditar em milagres.
Foi então que o repórter Roberto Cabrini entrou durante a transmissão da Globo e proferiu algumas das mais tristes palavras que eu me recordo já ter escutado: "Esta é uma notícia que eu jamais gostaria de dar. Morreu Ayrton Senna da Silva".
Mais uma vez eu não acreditava que era possível. Não, não com ele. Como seria possível? Lembro que chorei, e talvez pela primeira vez na vida, tive de lidar com a terrível dor da perda.
Senna não era próximo, não era conhecido, não era meu amigo de verdade. Mas, para aquele garoto de 8 anos, ele era quase um parente, um irmão mais velho. Me imaginava sendo ele, ficava horas sonhando com uma vitória em uma corrida e o Galvão gritando "Fábio Megale do Brasiiiiiiiiil", da mesma forma que fazia com Ayrton. Era um legítimo sentimento de perda.
E desde então aquele garoto nunca mais acompanhou F1 da mesma maneira. Simplesmente perdeu a graça. O vermelho da Ferrari nunca será igual o da McLaren que tantas vezes Senna pilotou, e o tremular da bandeira quadriculada nunca será tão marcante. Nem o Tema da Vitória, que até hoje emociona e resgata memórias, foi e jamais será o mesmo. O apagar das luzes da largada deixou tudo acinzentado.
Escuta essa: Tema da Vitória
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