Acordou no meio da noite com o barulho da tempestade que se aproximava. O balanço do barco já indicava que o trabalho ia ser duro e a ressaca brava. Levantou-se e parou por um segundo para tomar ânimo. Pela força do vento, essa seria forte.
Em sua vida, já havia enfrentado diversas tempestades. Umas mais brandas, outras mais arrasadoras, das que sobreviver talvez tenha sido um milagre divino. E esta noite estava preparado para encarar mais uma. E não seria a última: sua vida de pescador, sofrida e muitas vezes solitária, fazia com que ele e a forte chuva fossem quase como amantes que se encontram escondidos em alto mar no meio de uma noite estrelada.
Pegou seu casaco, a capa de chuva e partiu de encontro à mais uma batalha. Preparou tudo enquanto a chuva começava a apertar, e no auge da tempestade estava na cabine, firme como um capitão deve ser. Encarando de frente os relampagos e a ventania que assolavam seu pequeno barco, enquanto com agilidade e competência manuseava o mastro, deixou seus pensamentos se perderem nela.
Tão bela, tão apaixonante. Seus olhos pequenos o faziam feliz todas as vezes em que se encontravam, feliz como jamais sonhara ser. Se existia alguma coisa na face da Terra que valia a pena lutar, era por ela. E assim ele tirava forças para encarar e vencer mais essa tormenta. E seu suor, seu sangue, seu amor, sempre seriam recompensados com um sorriso ao nascer do dia.
Não haveria no mundo tempestade capaz de separar os dois, de impedir que ficassem juntos. Nem um monstro marinho, se aparecesse em meio aos relâmpagos, seria capaz de parar seu barco e evitar seu retorno para os braços dela. Nem mesmo os relâmpagos, estrondosos e arrasadores, e o vento que tiraria qualquer um de rota, seriam capazes de desviar sua atenção e seu coração. Ele era mais forte que tudo isso, e era mais forte por causa dela. Seu coração, no meio das trevas, tinha um farol que o guiava.
E assim ele acordou. Não era mais capitão, não era mais pescador. Mas continuava completamente apaixonado. Ficou observando ela dormir, certo de que enfrentaria toda e qualquer tempestade só para poder acordar e vê-la ao seu lado, todos os dias, de toda a sua vida.
Sem ela, estaria perdido. Ela era sua bússola.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Bússola
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