quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

#1 O Coelho Branco

#1 O Coelho Branco

10, 9, 8, 7...

Dizem que o ano no Brasil só começa depois do carnaval. Se é assim, feliz ano novo! Que tenham todos um ótimo ano e blábláblá.

Então, lembra daquela lista de coisas que você havia prometido fazer no começo do ano? Já fez alguma ou se esqueceu completamente? Agora é hora de tomar vergonha na cara e começar.

Ouvi falar que até os políticos vão trabalhar esse ano. Tô pagando pra ver: pagando imposto de renda, inss, iptu, ipva, ietc, e até hoje não vi nada!

Se a coisa não melhorar, vou até mudar de profissão: depois do sequestrador com arma de video-game, vou começar a assaltar banco com aquelas armas laranjas de brincar com água.

O duro esse ano vai ser aguentar a falação sobre as eleições de 2010. Prévias dos partidos, propaganda antecipada... é verdade, os políticos realmente devem trabalhar esse ano.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Subeta Comics

O Começo

Um oferecimento: Subeta Comics, a mais nova divisão da Subeta Corporation.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Yes, Man!

Acabei de chegar do cinema. Com atraso, fui assistir à mais nova comédia de Jim Carrey: Sim senhor! (Yes man).

O preceito básico da história é um homem que somente diz "não" para todas as situações e que, após assistir a uma palestra motivacional (no melhor estilo auto-ajuda), passa a dizer sim para tudo. Semelhança com algum outro filme de Carrey? Talvez com O Mentiroso, talvez com Todo Poderoso...

Porém, essas semelhanças não atrapalham em nada o filme. São apenas semelhanças. A idéia proporciona situações engraçadas ao personagem e risadas para os espectadores. Admito que não sou o melhor cara para criticar um filme de comédia, afinal, me divirto com praticamente todos, mas pergunto: porque dizer não à boas risadas? Diga sim, man!

A história tem pontos altos e baixos, coisas que poderiam ser melhoradas no roteiro e em alguns personagens mas, no geral, eles cumprem bem o seu papel. Algumas cenas são divertidíssimas, como a briga no bar... ah, melhor assistirem por si mesmos!

Boas piadas, com o bom e velho Jim Carrey: um filme que recomendo para uma boa tarde de diversão.

E a filosofia proposta até que é interessante... mas é difícil de realmente se aplicar no "mundo real". Mas não custa nada aumentar o número de vezes que você utiliza a palavra "sim" durante o dia, não é mesmo? (É nessas horas que vocês respondem alegremente: "Sim, senhor!")

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

E o Oscar foi para...

Ontem, antes do Oscar, participei de um bolão junto com o Frango e a Small sobre os vencedores em todas as categorias. O prêmio? O vencedor assiste a uma seção de cinema na fita, por conta dos outros dois.

Vamos, então, ao resumo da noite (e totalmente fora da ordem cronológica da cerimônia):

Na categoria Canção Original, Jai Ho, de "Quem quer ser um milionário?", ganhou. E o Frango também. 0x1x0 para ele. Eu havia apostado na canção "Down to Earth", do Wall-E, assim como a Jessie.

Em Edição de Som, eu apostei no filme Batman - O Cavaleiro das Trevas e ganhei sozinho. 1x1x0.

Tentei a dobradinha com o Cavaleiro das Trevas na categoria Mixagem de Som, mas perdi. O Milionário (vamos chama-lo assim de agora em diante) ganhou e a dupla Frango e Small também. 1x2x1.

Na categoria Melhor Curta de Animação, apostei no francês La Maison en Petits Cubes e acertei sozinho. 2x2x1.

Na categoria Melhor Curta Metragem, eu e a Small apostamos no The Pig, e o Frango em New Boy. O vencedor foi Spielzeugland, portanto, o placar continua 2x2x1.

Em Efeitos Visuais, três apostas distintas: Eu apostei no filme do Benjamin Button, o Frango no Iron Man e a Jessie em Batman. Deu Benjamin e eu passo na frente: 3x2x1.

Em Trilha Sonora, nós três apostamos em Wall-E, e erramos. Se não me engano, venceu o Milionário. Sem mudanças, então.

Melhor Maquiagem, nós três apostamos em Benjamin e acertamos: 4x3x2.

Na categoria Melhor Montagem, nós três fizemos novamente as mesmas apostas: Milionário. E acertamos novamente. 5x4x3.

Em Melhor Documentário - Curta, três apostas distintas. Eu apostei em Smile Pinki e ganhei mais um ponto: 6x4x3.

Já em Melhor Documentário, eu e o Frango apostamos em Man on Wire, enquanto a Jessie apostou em Encounters at The End of the World. E Man on Wire venceu. Placar: 7x5x3.

Em Melhor Figurino, apostei em A Duquesa, contra dois votos em Benjamin. Levei mais essa: 8x5x3.

Na categoria Direção de Arte, eu e Jessie apostamos em Benjamin contra um voto em Batman do Frango. Resultado final: deu Benjamin. 9x5x4.

Melhor Fotografia foi fácil: 3 votos para o vencedor Milionário. 10x6x5.

Melhor animação, então, nem se discute. Deu o óbvio: Wall-E. 11x7x6.

No Melhor Filme Estrangeiro, nós três apostamos no israelense Waltz with Bashir. Venceu o japonês Departures. Sem mudanças.

A categoria Melhor Roteiro Adaptado teve três apostas diferentes. Enquanto eu apostei no Milionário, o Frango apostou em O Leitor e a Jessie em Benjamin. Levei essa também: 12x7x6.

Roteiro Original também foi moleza: enquanto eu apostei em Milk, os dois apostaram em Wall-E. E eu ganhei mais um ponto. 13x7x6.

Na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, não sei porque diabos continuei apostando na Viola Davis. Deu Penelope Cruz, e os dois ganharam mais um pontinho: 13x8x7.

Ator Coadjuvante todo mundo acertou: Heath Ledger. 14x9x8.

O Oscar de Melhor Atriz foi para Kate Winslet. Ela mereceu o prêmio, e os dois os pontos que ganharam: 14x10x9. Eu havia apostado na fantástica Meryl Streep.

A minha aposta para Melhor Ator era diferente das demais. Enquanto apostei em Sean Penn, os dois apostaram no Mickey Rourke. Levei mais esta. 15x10x9.

Melhor Diretor teve três apostas diferentes: eu apostei no Gus Van Sant, de Milk. O Frango apostou em Danny Boyle, do Milionário. Jessie apostou no Ron Howard, de Frost/Nixon. Ganhou Danny Boyle. 15x11x9.

Por último, nós três apostamos no Milionário para Melhor Filme e acertamos. Placar Final: 16x12x10.

Acertei 16 de 23 categorias. Cerca de 70%. Uma melhora significativa, consertando alguns votos. Mas poderia ser melhor. No próximo Oscar, quem sabe eu acerto uns 90%...

Enquanto isso, já estou pensando em qual filme vou escolher para assistir de graça. Mas já está combinado: ano que vem tem mais. Se quiser participar, é só fazer suas apostas!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

E o Oscar vai para...

Hoje é noite de Oscar. A noite mais glamurosa de Hollywood, que não anda tão glamurosa assim há algum tempo, promete disputas emocionantes.

Fiz algumas apostas em uma promoção, e vou compartilha-las agora para conferir os resultados daqui a pouco - e provavelmente vou errar feio, pois 90% foi chute: não assisti a quase nenhum dos indicados.

Meus palpites, seguidos de comentários/justificativas, foram:

Melhor Filme: Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire)
Promete ser uma surpresa, batendo o Caso do Benjamin. Apostei pelo carisma da idéia, e por acreditar que o Forrest Gump II (ou o Curioso Caso de Benjamin Button) não ganhe.
Resultado: Acertei.

Melhor Ator: Sean Penn (Milk)
Gosto do trabalho deste ator e, pelo que vi no trailer, parece estar realmente fantástico.
Resultado: Acertei também.

Melhor Ator: Coadjuvante: Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Sem dúvida O Coringa leva o Oscar. Este foi um dos poucos que apostei conscientemente.
Resultado: Outro ponto pra mim.

Melhor Atriz: Meryl Streep (Dúvida)
Meryl Streep é Meryl Streep. Pra mim, uma das grandes atrizes de todos os tempos.
Resultado: Errei. Quem levou foi a Kate. Merecido também.

Melhor Atriz Coadjuvante: Viola Davis (Dúvida)
Fiquei em dúvida se apostava nela ou na Penelope Cruz (por Vicky Cristina Barcelona). Apostei nela, mas não me pergunte os motivos.
Resultado: Não me perguntem os motivos do meu vacilo. É claro que deu Penelope.

Melhor Diretor: Ron Howard (Frost/Nixon)
Chute no escuro. Vamos ver no que vai dar.
Resultado: Tenho até vergonha do meu palpite. Venceu o Danny Boyle, do Slumdog.

Roteiro Original: Milk
Parece que tem uma história interessante e que merece o prêmio.
Resultado: Acertei.

Roteiro Adaptado: O Curioso Caso de Benjamin Button
É aquela velha história de não mexer em time que está ganhando: se deu certo com Forrest Gump, porque não daria certo outra vez?
Resultado: Deu Slumdog de novo. Era o óbvio.

Música Original: Danny Elfman (Milk)
Danny Elfman é um dos grandes compositores do cinema e, se o nome dele está envolvido, é sinal de coisa boa. Não conheço as indicadas, então fui por familiriadade com os compositores.
Resultado: Venceu Jai Ho, do Slumdog.

Filme Estrangeiro: Waltz With Bashir, de Ari Folman (Israel)
Chute. Mas parece bacana.
Resultado: Venceu o japonês, Departures.

Filme de Animação: Wall-E
Alguém duvida que o robozinho mais simpático da história ganha? Esse é outro que apostei consciente.
Resultado: Se alguém errasse esse...

Fotografia: O Curioso Caso de Benjamin Button
Pelo que já vi do filme, parece ter uma fotografia interessante. E um filme com 13 indicações deve ganhar alguma coisa, não?
Resultado: Ganhou o Slumdog.

Figurino: A Duquesa
Apostei pelo nome.
Resultado: Acertei pelo nome.

Montagem: Frost/Nixon
Chute.
Resultado: O Slumdog levou esse também.

Maquiagem: O Curioso Caso de Benjamin Button
Fazer Brad Pitt não só parecer novo e/ou velho, mas como também ter sua melhor atuação, merece levar este Oscar. Embora de maquiagem de verdade mesmo só a da Cate Blanchett idosa.
Resultado: Acertei.

Efeitos Visuais: O Curioso Caso de Benjamin Button
Quase o mesmo motivo do acima. Palpite.
Resultado: Acertei de novo.

Vamos ver no que dá. Acertando tudo e com uma boa dose de sorte ganho um ano de cinema grátis. Não ganho um ano de cinema grátis, mas já foi alguma coisa. Se não contei errado, acertei 8 de 16. 50% pra palpites sem ver os filmes e sem pensar muito bem é um bom começo...

EM TEMPO: Fiz outras apostas (mais pensadas) para um bolão com dois amigos. Acho que vou melhor. Aguardem por mais detalhes. Eu fui melhor. Confiram no post acima.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um breve conto de terror

Marcos era um rapaz corajoso: não tinha medo de monstros nem baratas. Para ele, essa história de superstição era só balela pra boi dormir e não ligava a mínima para gato preto nem escada. Sexta-feira 13, então? No máximo, um filme de terror.

Cético como era, não prestava muita atenção nos sinais a sua volta. Qualquer coisa estranha seria apenas uma coisa estranha. Tanto é que não ligou a mínima para as notícias um tanto bizarras do noticiário naquela manhã de sexta-feira. Um assassinato misterioso? Isso acontece todo dia. Desaparecimentos? Cada dia mais comum no nosso mundo caótico. Morcegos em plena luz do dia? Culpa do aquecimento global.

No trabalho, culpou a companhia elétrica pela falta de luz. O colega que desapareceu misteriosamente no horário do almoço deveria ter fugido para casa com diarréia - "bem que ele estava com uma cara estranha a manhã inteira", pensou. Até imaginou que a secretária estivesse jogando charme para o seu lado, já que toda hora ela olhava para ele de soslaio. E o vestido vermelho que usava, atípico para uma garota tímida como ela, deixava Marcos ainda mais seduzido.

Fim do expediente, ele prepara suas coisas para ir embora, mas resolve esperar um pouco. Depois que todos saírem, iria convidar a secretária para jantar. Afinal, era sexta e só teriam de ver o chefe na segunda. Ah, um merecido final de semana de descanso...

A secretária chamava-se Luana. Depois que todos haviam partido, Marcos se aproximou. Estava estranhamente otimista. A convidou para jantar. Ela aceitou, mas teria de passar em casa antes pois havia esquecido de alimentar sua gata de estimação. Como estava sem carro, perguntou se Marcos poderia dar uma carona e, quem sabe, ele até entrasse para beber alguma coisa. Ele, feliz e sem desconfiar de nada, aceitou.

A lua estava bela. Completamente cheia, parecia até maior que o habitual. O clima não podia ser mais perfeito.

Enquanto dirigia, Marcos e Luana mal conversaram. Havia uma tensão forte entre eles, e o perfume dela quase o matava. Praticamente não se aguentava mais quando chegaram à casa. Entraram. A casa era simples, mas extremamente bem decorada. Os tons de vermelho e vinho da decoração não seriam mais perfeitos do que já eram.

Marcos ficou esperando na sala, enquanto Luana iria na cozinha alimentar sua gata. Quando voltou, ela trazia duas taças e uma garrafa de vinho. Marcos já não pensava mais, estava totalmente dominado.

Luana os serviu, e o primeiro gole desceu suavemente pela garganta dele. Sentaram-se no sofá, e do som começou a tocar um misterioso jazz. Marcos reparou que o ambiente era iluminado por velas, mas não se lembrava de ver Luana as acendendo. Talvez fosse o vinho. Isso também explicaria o estranho brilho no olhar dela. Não devia ser nada demais.

Se aproximaram. Ela fez que ia beija-lo, mas desviou o rosto. Ele beijou seu rosto. Ela beijou suavemente seu pescoço. E então Marcos sentiu um calor intenso, algo que nunca havia sentido. Sua cabeça doía, estava quase explodindo. Olhou para o telhado e viu as sombras de um morcego. Não entendeu. Apagou.

Algum tempo depois, quando acordou, estava em um quarto estranho. Não se lembrava de como havia chegado até ali. Levantou-se, e caminhou até o banheiro. Olhou-se no espelho. Estava mais branco que o costume, pálido. Será que estava doente? Sua última lembrança era de estar chegando no trabalho e reparar na secretária, que estava diferente. Seus olhos... mas depois disso, não conseguia... não fazia sentido...

Escutou um barulho. Ficou parado, tentando não fazer barulho. Sua respiração estava ofegante, estava com medo. Começou a lembrar-se de todas as coisas estranhas que havia visto e que começavam a fazer sentido, como peças de um quebra-cabeças. A carona, o vinho, o calor... começava a se lembrar...

Mas onde estava? Se virou. Um gato o encarava do outro lado. Mas Marcos entendeu que não era um macho, mas sim uma fêmea. Lembrou-se de onde estava. Negra como a noite, com seus olhos amarelos e brilhantes, a gata começou a andar em sua direção. Marcos recuou, mas não havia para onde fugir. A gata se aproximava, cada vez mais. Ele olhou para os lados, tentando encontrar algum objeto com o qual se defender, mas o mais próximo de uma arma que encontrou foi uma escova de dentes, o que definitivamente não o ajudaria neste momento, a menos que o gato tivesse mal hálito. Sempre gostou de fazer piadas, e não pretendia morrer fazendo uma piada ruim dessas. Lembrava da sua infância e se arrependia profundamente de não ter seguido o sonho de ser escritor. Trabalhar em escritórios? Péssima idéia. Ia ser promovido em breve e precisava encontrar uma solução para evitar isso.

A janela era uma péssima opção. Se fosse a gata quem estivesse tentando fugir, poderia até dar certo. Mas ele era grande demais. Não passaria. O jeito seria inverter a situação. Afinal, ele era grande demais, e a gata poderia ser somente uma gata. Bem assustadora, mas somente uma gata. Resolveu partir pra cima. Se armou com a escova de dentes e saiu correndo em direção a porta do banheiro.

"Uma escova de dentes não vai te ajudar muito não."

Marcos assustou-se. Havia acabado de sair correndo do banheiro, quando ouviu uma voz. Parou. Virou-se lentamente para olhar a dona da voz, embora preferisse continuar encarando a gata. Parecia mais seguro. Luana estava ao seu lado, em seu vestido vermelho, encarando-o. Aproximou-se dele e acariciou seu rosto. Olhou para o pescoço de Marcos, onde haviam duas pequenas marcas. Ele não havia reparado nelas ainda, mas percebeu que estava com sérios problemas.

Precisava fugir. Tentou argumentar que havia esquecido o fogão aceso em casa, e sair de fininho pela porta. Correu em direção a algum lugar, tentando achar a saída. Encontrou a sala. No sofá, Luana já o esperava. A iluminação era a mesma, mas a música era outra: uma ópera bastante fúnebre. Combinava bastante com o momento, embora Marcos preferisse algo mais alegre, talvez até um samba. Tentou voltar, mas a gata estava atrás dele. Estava ficando sem opções.

Lembrou-se que ainda segurava a escova de dentes. Não sabia como aquilo poderia ser útil, mas era o que ele tinha em mãos. Precisava de um plano urgentemente. Luana levantou-se, e caminhou em sua direção. Era o fim. Não queria ser o prato principal e a sobremesa na mesma noite.

Se seus cálculos estivessem certos, e tudo indicava que sim, Luana era uma vampira. Dizem os filmes que mata-se vampiros com uma estaca no coração. Será que escovas de dente servem? Precisava de algo pontiagudo. Olhou ao redor. Nada. Ela não era marinheira de primeira viagem, era do tipo que só comprava tesoura sem ponta.

Marcos correu. Achou que a cozinha seria um lugar um pouco mais seguro, embora menos apropriado. Talvez encontrasse alho ou algum outro tempero e principalmente alguma coisa que fosse mais útil que uma escova nesse momento. Mas que vampiro guarda alho e estacas em casa? Só havia comida congelada, e Marcos não ficou muito empolgado com a idéia de descobrir qual o tipo de comida que havia no freezer e nem com a idéia de morar lá. Gostava da sua casa. Era simples, mas gostava.

Freneticamente, abriu armários e gavetas. Não encontrou nada. Não havia porta dos fundos na casa, apenas uma entrada. Nem janelas, somente no banheiro e na sala, e ele não gostava muito da idéia de voltar em nenhum dos dois.

Pensou. Só havia uma única saída. Bolou um plano, o melhor que conseguiu nas circunstâncias. Teria de funcionar. Precisaria ser ousado. Correu.

Luana continuava no sofá. Ele achou estranho, pois ela havia levantado. A gata havia desaparecido. Era estranho, também. Resolveu não se preocupar, não tinha tempo para isso. Pegou um dos castiçais, enquanto Luana o olhava atentamente. Esperou.

Ela se levantou, ele agiu rápido: jogou as velas no chão, e o tapete entrou em chamas. O fogo é perigoso até para os vampiros, e Luana recuou. O fogo alastrou-se rápido e uma barreira surgiu entre eles. Então Marcos percebeu seu erro. Havia ficado do lado errado. Entre ele e a porta não havia mais somente uma vampira assustadora, mas também uma parede de fogo.

Em pouco tempo, ele estava cercado. O fogo se alastrou e as chamas tomaram conta da sala. Luana havia desaparecido. O jeito era atravessar as chamas correndo e alcançar a porta, antes que a situação piorasse. Fechou os olhos e foi. Misteriosamente, conseguiu. Seu carro havia desaparecido, então correu para casa o mais rápido que pôde. Não havia pessoas na rua, nem ônibus, nem algum outro meio de transporte.

Chegou em casa ao amanhecer. Se trancou no seu quarto e passou todo o final de semana lá. Mal conseguia dormir e só saia para buscar algo para comer na geladeira.

Na segunda-feira, cogitou não aparecer no emprego. Mas achou que poderia estar seguro lá se levasse algumas cabeças de alho e crucifixos, e não se deixasse cair em tentação. Passou no supermercado antes, se armou, e foi.

Esperava não encontrar Luana por lá. Quando chegou no andar em que trabalhava, um frio subiu pela espinha: ela estava na recepção. Aproximou-se lentamente, mas ficou levemente aliviado ao perceber que ela usava suas roupas habituais. Tentou passar despercebidamente, quando aquela voz suave e mortal o chamou: "Bom dia, Marcos."

Ele se virou lentamente. Ela olhava estranhamente para ele, e seu sorriso era mais estranho ainda. O frio na espinha agora parecia nitrogênio líquido. Esperava que ela não dissesse nada, que tudo tivesse sido um pesadelo, mas ela pronunciou as palavras que ele mais temia: "Por favor, o senhor poderia me devolver a minha escova de dentes?"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Ordem Relativa das Coisas

Tudo o que acontece, acontece.

Tudo o que, ao acontecer,
faz com que outra coisa aconteça,
faz com que outra coisa aconteça.

Tudo o que, ao acontecer, faz com que ela mesma
aconteça de novo, acontece de novo.

Isso, contudo, não acontece necessariamente
em ordem cronológica.

(Do livro "Praticamente Inofensiva", do Douglas Adams)